segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Sobre a experiência

O texto em que Larossa faz algumas notas sobre a experiência realmente mexeu muito comigo, pois percebi como estou/estamos e tudo nos leva a estar dentro daquele padrão de sujeito moderno que anula qualquer possibilidade de experiência - ultrainformados, transbordantes de opiniões, superestimulados, cheios de vontade e hiperativos. Dentro da nossa própria faculdade somos cobrados diariamente para saber mais e mais, temos que ler trilhões de textos sobre diversos assuntos em uma semana e raramente, na aula ou mesmo em casa, os exploramos, buscamos saber o que o texto pensa, o que ele nos leva a pensar. O nosso foco acaba sendo sempre a nossa opinião sobre ele, somos induzidos muitas vezes a essa ação e sim, também, em alguns momentos, reduzimos nossa opinião a um concordar ou discordar com o autor - já é uma prática automática. Além disso, outra coisa que acredito estar muito presente em nosso cotidiano, pelo menos no meu está com certeza, é a famosa falta de tempo! Eu mesma vivo dizendo que não tenho tempo para nada, que meu dia deveria ter 48h, mas mesmo se tivesse eu continuaria reclamando, pois arranjaria mais coisas para fazer, não consigo ficar parada, digo que tenho que aproveitar meu tempo ao máximo, sigo sempre nesse curso acelerado do tempo, estou sempre insatisfeita, sempre sem tempo...
Diante desse cenário, paro para pensar, refletir e me questionar a respeito do que me acontece... É horrível ter que admitir, mas, mesmo fazendo um turbilhão de coisas, tenho a impressão de que nada me acontece, assim como Larossa disse. E a minha experiência? No momento é anulada pelas minhas ações... Caso só eu me encontrasse nessa situação, talvez minha agonia fosse menor, o que mais me angustia é ter a consciência de que várias pessoas encontram-se na mesma situação do que eu e não sabem disso, tem sua experiência anulada por algum motivo... Penso nas consequências disso, no valor que damos para a nossa própria vida e para as nossas relações, as quais acabam sendo frágeis e superficiais... o que valorizamos? quem sabe mais (em termos quantitativos, de informações diferentes)? que consegue fazer mais coisas? quem trabalha mais? quem estuda mais? o que vivemos então? o que nos acontece? Acredito que nos falta o ÓCIO, sim, o ócio é fundamental em nossas vidas. Refiro-me aquele ócio de realmente não fazer e nem pensar em nada! ou melhor, pensar é permitido sim, mas pensar sobre o que lhe acontece, parar para escutar, observar, olhar mais cuidadosa e atentamente todos o detalhes, parar para sentir - quantas vezes não passamos por cima de nossos próprios sentimentos, a ponto de nem saber o que sentimos! Precisamos demorar mais nessas atitudes, pra que a pressa? É preciso curtir o momento, falar sobre o que nos acontece, ouvir os outros, fazer só aquilo que somos capazes e nos dedicar, para que nos entupirmos de compromissos e responsabilidades?
Parece que temos medo de enfrentar o mundo, por isso encontramos formas de fugir, não ter que encarar as coisas de frente, pois é mais fácil! A própria escola e os pais colaboram para essa nossa formação, eles tentam evitar nossa dor de qualquer maneira, não nos deixam vivenciá-la, por isso crescemos acreditando que não se deve sofrer, por isso queremos evitar o sofrimento a qualquer custo, por isso que diante da duvida optamos pelo caminho mais fácil, mais seguro... e se errarmos? é proibido! o sentimento de frustração aparece e não sabemos lidar com ele, por isso só podemos acertar, logo não nos arriscamos... Entretanto a experiência requer perigo e travessia!
Desculpem pela extensão, mas isso ainda é muito pouco diante de tudo o que o texto me levou a refletir... ele realmente me incomodou, pegou na ferida!...

Um comentário:

  1. Ei, Letícia! Que bom que teve esse tempo de escrever! Que bom também que temos esta oportunidade de conversar-pensar, via blog, sobre aquilo que realmente nos toca!
    O mundo da opinião (será que é só isso o que eu estou aqui fazendo!?) realmente nos força a dizer sim ou não o tempo todo, sem experimentarmos as coisas, conhecermos os seus sabores.
    Eu me emocionei com o final do seu texto, porque tem tudo a ver com o que escrevi na minha dissertação de mestrado sobre “experimentação”. Primeiro, brinquei com as palavras “não há certo, logo, não acerto”. O medo de acertar realmente tolhe a experimentação e frustra a gente. O medo de escapar ao “conforme” também.
    Mas o mais interessante é que você falou de perigos e travessia e eu trabalho com Guimarães Rosa, o mestre da travessia, e socializo com você(s) dois trechos que têm a ver com isso:
    “Ah, tem uma repetição, que sempre outras vezes em minha vida acontece. Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?” (In Grande sertão: veredas, página 26)
    “Queria era, um dia, que fosse, atravessar o rio, como quem abre enfim os olhos.”
    (In Tutaméia, p.152)
    Abraço procê!

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