Diante desse cenário, paro para pensar, refletir e me questionar a respeito do que me acontece... É horrível ter que admitir, mas, mesmo fazendo um turbilhão de coisas, tenho a impressão de que nada me acontece, assim como Larossa disse. E a minha experiência? No momento é anulada pelas minhas ações... Caso só eu me encontrasse nessa situação, talvez minha agonia fosse menor, o que mais me angustia é ter a consciência de que várias pessoas encontram-se na mesma situação do que eu e não sabem disso, tem sua experiência anulada por algum motivo... Penso nas consequências disso, no valor que damos para a nossa própria vida e para as nossas relações, as quais acabam sendo frágeis e superficiais... o que valorizamos? quem sabe mais (em termos quantitativos, de informações diferentes)? que consegue fazer mais coisas? quem trabalha mais? quem estuda mais? o que vivemos então? o que nos acontece? Acredito que nos falta o ÓCIO, sim, o ócio é fundamental em nossas vidas. Refiro-me aquele ócio de realmente não fazer e nem pensar em nada! ou melhor, pensar é permitido sim, mas pensar sobre o que lhe acontece, parar para escutar, observar, olhar mais cuidadosa e atentamente todos o detalhes, parar para sentir - quantas vezes não passamos por cima de nossos próprios sentimentos, a ponto de nem saber o que sentimos! Precisamos demorar mais nessas atitudes, pra que a pressa? É preciso curtir o momento, falar sobre o que nos acontece, ouvir os outros, fazer só aquilo que somos capazes e nos dedicar, para que nos entupirmos de compromissos e responsabilidades?
Parece que temos medo de enfrentar o mundo, por isso encontramos formas de fugir, não ter que encarar as coisas de frente, pois é mais fácil! A própria escola e os pais colaboram para essa nossa formação, eles tentam evitar nossa dor de qualquer maneira, não nos deixam vivenciá-la, por isso crescemos acreditando que não se deve sofrer, por isso queremos evitar o sofrimento a qualquer custo, por isso que diante da duvida optamos pelo caminho mais fácil, mais seguro... e se errarmos? é proibido! o sentimento de frustração aparece e não sabemos lidar com ele, por isso só podemos acertar, logo não nos arriscamos... Entretanto a experiência requer perigo e travessia!
Desculpem pela extensão, mas isso ainda é muito pouco diante de tudo o que o texto me levou a refletir... ele realmente me incomodou, pegou na ferida!...
Ei, Letícia! Que bom que teve esse tempo de escrever! Que bom também que temos esta oportunidade de conversar-pensar, via blog, sobre aquilo que realmente nos toca!
ResponderExcluirO mundo da opinião (será que é só isso o que eu estou aqui fazendo!?) realmente nos força a dizer sim ou não o tempo todo, sem experimentarmos as coisas, conhecermos os seus sabores.
Eu me emocionei com o final do seu texto, porque tem tudo a ver com o que escrevi na minha dissertação de mestrado sobre “experimentação”. Primeiro, brinquei com as palavras “não há certo, logo, não acerto”. O medo de acertar realmente tolhe a experimentação e frustra a gente. O medo de escapar ao “conforme” também.
Mas o mais interessante é que você falou de perigos e travessia e eu trabalho com Guimarães Rosa, o mestre da travessia, e socializo com você(s) dois trechos que têm a ver com isso:
“Ah, tem uma repetição, que sempre outras vezes em minha vida acontece. Eu atravesso as coisas – e no meio da travessia não vejo! – só estava era entretido na idéia dos lugares de saída e de chegada. Assaz o senhor sabe: a gente quer passar um rio a nado, e passa; mas vai dar na outra banda é num ponto muito mais embaixo, bem diverso do em que primeiro se pensou. Viver nem não é muito perigoso?” (In Grande sertão: veredas, página 26)
“Queria era, um dia, que fosse, atravessar o rio, como quem abre enfim os olhos.”
(In Tutaméia, p.152)
Abraço procê!