terça-feira, 1 de setembro de 2009

"Sobre a lição"

"No começo era o verbo.
Só depois é que veio o delírio do verbo.
O delírio do verbo estava no começo, lá onde
a criança diz: Eu escuto a cor dos passarinhos.
A criança não sabe que o verbo escutar
não funciona para cor, mas para som.
Então se a criança muda a função
de um verbo, ele delira.
E pois.
Em poesia que é voz de poeta,
que é voz de fazer nascimentos-
O verbo tem que pegar delírio.
(...)
A ciência pode classificar e nomear os orgãos
de um sabiá mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular quantos cavalos
de força existem nos encantos de um sabiá.
Quem acumula muita informação
perde o condão de adivinhar: divinare.
Os sabiás divinam."
(MANOEL DE BARROS)

Beatriz T. Ruela RA:015550

2 comentários:

  1. Olá, Bia!
    Sou fã do Manuel de Barros. Ele tem tudo a ver com o que penso sobre o alcance do pensamento quando imerso na sensibilidade dos poetas.
    Muito boa a sua escolha dessa poesia como meio de expressar o conteúdo do texto..
    Profa.Maria Teresa

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  2. Li e reli, e ainda leio, esse poema várias vezes... paro, penso, reflito... mas que palavras sábias do Manoel de Barros!! Acredito que esse poema muito tem a ver com o que Jorge Larossa diz em "Sobre a lição" ao afirmar que "(...) na lição, a palavra extravasa o texto e o abre para o infinito", ele diz mais ainda " Somente a ruptura do já dito e do dizer como está mandado faz com que a linguagem fale, deixa-nos falar, deixa-nos pronunciar nossa própria palavra".

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